terça-feira, 27 de julho de 2021

Orgasmo da criação.

A arte salva e dissolve
Todo o tédio da vida
Escorre…

Cores vibrantes
Cheiros, sons, texturas
Gozos sem penetração.

Natureza, corpo, o suor da produção
Em tinta, em verso, em quadro, em luz
O orgasmo da criação.

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Essa extroversão cansativa

Sinceramente, acho que boa parte dos males da humanidade se baseia no fato de sermos uma sociedade que supervaloriza os extrovertidos: pessoas sempre afim de festa, "amigões" de todo mundo, profundos como um pires de chá. Gente ocupada demais se distraindo de si mesma para prestar verdadeiramente atenção às pessoas ou ao mundo à sua volta. O modelo comportamental perfeito para uma sociedade consumista, frívola e pouco empática.
 
Me perdoe a franqueza incômoda, mas eu sou assumidamente uma pessoa de poucos amigos - e os poucos amigos que tenho carrego, em geral, há muitos anos. Não sou uma pessoa de bando: sou do contato íntimo, pessoal. Alguém que preza o espaço de confiança e cuidado - o delicado laço que tira o peso de nossa armadura cotidiana, nos permitindo sermos, nem que um pouquinho, vulneráveis.
Vulneráveis para falarmos de nossos sonhos mais descabidos, dos desejos que levamos desde criancinhas no coração, daquele relacionamento que você deseja que dê certo. Ainda mais vulneráveis para assumirmos que erramos, que eventualmente somos fracos, confusos, carentes, que estamos muito longe daquilo que planejamos para nossa vida. Como estamos sós.

Posto isso, acho engraçado como os extrovertidos se pautam em si mesmos para definir o que é normalidade. Tão cheios de si, crêem que todos querem - e devem querer - ser como eles. Quem não quer é taxado de estranho, problemático, desajustado. Quanta presunção!
 
Também acho mais curioso ainda é que, quando esses extrovertidos se encontram em períodos pesados, precisando descansar da sua armadura e permitir serem vistos é aos introvertidos que eles, invariavelmente, recorrem. Curioso, não?
 
Porque sim, é cansativo fingir que está tudo bem, ter inúmeras pessoas falando à sua volta e nenhuma realmente interessada em você, ter centenas de curtidas e nem uma viva alma que queira escutar, de fato, sobre os seus sonhos e medos. 
 
Quem realmente está só?






domingo, 20 de agosto de 2017

Vizinhos

Tenho novos vizinhos no andar de cima. Meus vizinhos gostam de receber amigos e gargalhar até tarde.
Eu, durmo cedo e acordo cedo para escrever. Dias solitários, quase sem sair de casa...
Poderia falar ao porteiro para interfonar para os vizinhos, requisitando que riam mais baixo.
Poderia eu mesma cutucar o teto com uma vassoura.
Ou, gentilmente, tocar a campainha dos novos habitantes ou deixar uma carta na portaria.
Porém, dizer para alguém controlar sua alegria quando ao lado daqueles que ama, solicitar que diminuam o volume de sua felicidade - tão íntima quanto um apertado quitinete de 28 m quadrados no Catete -, me parece uma perversidade sem tamanho.
É como pedir que crianças não corram, que amantes não gemam, que seu pai não fique adoravelmente bêbado numa festa de casamento ou que seu cachorro não pule em sua roupa limpa. 
Fecho os olhos e sorrio no escuro. Desejo que, em breve, eu também possa incomodar meu vizinhos...

quinta-feira, 4 de maio de 2017

clareamento dental

eu vou arrancar esse coração do  peito
tal qual um siso sem uso e sem por quê
que apenas atrapalha o tratamento ortodôntico já realizado.

eu vou arrancar esse coração do  peito
pois ele está funcionando e isso é defeito
- todos sabem que pedras de gelo ou espelhos fazem bem o trabalho esperado.

eu vou arrancar esse coração do  peito
pq ele quer gritar, se apegar, amar, lutar por ideais
que morreram no dia que o tinder nasceu.

eu vou arrancar esse coração do  peito
dar unmatch em mim mesma
unfollow em tudo o que já acreditei
bloquear os meus sonhos.

serei uma selfie fazendo bico.
uma silicone num peito sem vida.
um match que vira contatinho
- e depois vira ar.

eu serei essa vida vazia.
eu serei a foda mal dada.
eu serei a alegria perdida.

num sorriso de clareamento dental.

sábado, 13 de junho de 2015

eu queria pensar numa música...

eu queria pensar numa música...

eu queria pensar numa música
pra você
do seu jeitinho
inquieto, inteligente, arredio

eu queria pensar numa música
pra passar o sábado longe
pra que outros sorrisos
te passem desapercebidos
e que a nossa trilha não se perca
entre apitos do seu iphone

eu queria pensar numa música
que fosse leve como uma brisa
num rolé de long

procurei um samba
não achei
tentei um rap
não rolou
então lá vou eu
outra vez

eu queria pensar numa música...

quinta-feira, 4 de junho de 2015

liberdades ao vento

liberdade não cabe em palavras
etéreas, imprecisas
que falseiam máscaras
e mascaram quereres
nem sempre queridos
- ainda que outros sejam um tanto desejados.

liberdade não se afirma
como algo que possa ser negado
por ninguém mais, ninguém menos
que o dono de sua própria sina.

liberdade não se aprisiona
em atitudes estanques
em falsos palanques
de independência desmedida.

liberdade é sua
posse inata de sua existência
cuide com carinho, cultive, floresça
- e aconteça o que aconteça
não se esqueça que o amor liberta.

domingo, 31 de maio de 2015

seja homem, menino.

seja homem, menino,
que eu não mordo
(muito).

seja homem, menino,
que essa energia não mata
(no máximo queima).

seja homem, menino
e deixa esses dois vulcões
explodirem juntos.

que medo bobo é esse?

de ir onde você nunca foi,
de perder o controle,
de ser consumido pelo fogo
e sentir o parar do tempo?

vem provar uma mulher por dentro
- deixa o real embate da vida acontecer.