segunda-feira, 25 de maio de 2009

O pai.

Se fantasiamos nosso pai
E sobre eles construímos todo édipo
Se ele se torna modelo
Idealizado, inalcançável, sem defeitos
Que grande choque, tremendo baque
- talvez carregado de ilusão burguesa, é bem verdade -
É perceber que ele não é nada além de humano.

Pode ser insensível
Pode ser egoísta
Pode não apreciar a sua presença
Pode ser totalmente alheio a quem você é
E de como você gostaria que ele enxergasse no fundo da sua alma.


Aí, nesses momentos de silêncio onde a realidade se mostra
Você percebe que seu pai sintetiza, na verdade
Aquilo que você busca em outro ser humano:
Uma compreensão sem palavras
Um conforto vindo do outro como o grande útero materno.

Nessa desterritorialização
Percebe-se a infância ficar em um passado remoto
E suas feridas abertas nesse mesmo presente
Esperando para serem curadas, para serem entendidas.

Então você percebe que ficou adulto
Que a trama familiar não pretende acompanhar seus largos passos
E que o único refúgio real
É aquele que você constrói dentro de si mesmo.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Música.

Música!

Meus olhos se fecham
E meu corpo inteiro se plena
Quero voar para onde vibram os instrumentos
Quero me transformar em ondas sonoras!

Linhas da mão

(06/10/07)

Nas linhas de sua mão
Vi passos de uma mulher graciosa
Criatura tranquila e generosa
Que iria povoar teu coração.

Te trazer de presente do céu
O sol mais luminoso que brilhava por lá
Para que pudesse te guiar na estrada da vida
Por vezes, repleta de escuridão.

Eram os caminhos de um irmão
Nascido em outras terras
Parido de outro ventre
Resgatado pelos orixás da felicidade
Que ecoando seus atabaques
Lhe indicaram o caminho de casa.

Nas linhas de sua mão
Delineadas entre as fogueiras escarlates
Acesas por todos os seres que já viveram
E um dia existirão
Vi pegadas de luz.

Deixadas ao longo de um percurso atemporal
Por um clã que caminha junto
Protegido pelo delicado fio dourado do amor
Impartível, como o destino.

(Dedicada ao pai do meu afilhado)


O demônio que dormia tranquilo

(31/08/06)

O demônio que dormia tranquilo
Escondido n'algum recanto das minhas entranhas
Ontem entreabriu, sonolento, os seus olhos
E hoje por fim despertou.

Acordou querendo abrir meu corpo
Para se livrar da jaula de ouro enfeitada com flores
Que para ele criei.

"Babaca"- range por entre seus dentes pontiagudos,
"Te rasgo por dentro, você sabe"
E então o deixo fugir.

Pisa com seus pés de fogo para fora de mim 
Mas me leva pela mão
Como uma mãe leva seu filho ao dentista
"Não quero, não quero", repito.

Quer destroçar qualquer sentimento ameno
Acabar com qualquer traço de equilíbrio e harmonia
Mastigar com gosto aqueles que lhe foram gentis
E depois cuspi-los fora.

Quer cuspir, arrotar, empurrar
Arranjar briga, beber e se entregar
A todo tipo de vício permissivo que existe.

Até se consumir por inteiro
Até sobrar apenas cinzas e lágrimas.


Vai voltar para a sua jaula, então
Cansado e satisfeito
Pelo caos que instaurou 
No universo que estava sendo reformado
E tão bonito ficava.

A mim,  só me restará
Quando ele se soltar, sem qualquer apego
da mão que se deixava guiar
Olhar no fundo dos teus olhos, meu amor
E me desculpar.

Pois contigo quero alcançar o paraíso
Mas esse demônio faz parte de quem sou.


sábado, 2 de maio de 2009

Cansei.

Cansei.

Cansei de falsidades. de mentiras bem contadas. 
de cobranças. de afetos desencontrados. 

Cansei de sentir raiva. de sentir culpa.
de sentir apego. de me sentir restringida.

Cansei de me submeter à mediocridade. ao egoísmo. 
ao rancor. à esperança desmedida e à desilusão precipitada.

Cansei de tudo que não é e pretende ser. 
Cansei de tudo que é e não pretende se enxergar. 
Cansei de um mundo feito de projeções. 
Cansei desse mundo, que na verdade não existe.

Assim, dispo e despeço-me da alegoria de mim mesma.


Ps: por favor, "Quinta-feira" foi antes de "É para frente que se anda". Na verdade, "É para frente que se anda" é a resolução de "Quinta-feira". Que o diga meu All Star!

Quinta-feira

Dormência.
Sinto meu corpo cansado.

Pego um café.

Procuro interagir com o simulacro de realidade circundante:
Falo sobre futebol
Que a bunda de funala tá uma maravilha
Que o Lula é um corno safado que enganou seu eleitorado.

Enfim, cumpro meu papel.

Vou embora com meu café fresco
com gosto de requentado nas mãos.
Seguro firme a xicrinha como se buscando firmeza
em algo na minha vida.
É inútil: chego em minha sala e derrubo a maldita 
ao som de uma Gal Costa deprimida.

Que saco. 
Que falta de estímulo.

Era mais feliz ao vagar pela rua banhada de sol
Onde meu All Atar da sorte era o único a guiar meu destino.

Noite de Lua Cheia

Em noite de lua cheia
Os lobos entram no cio.

Seus olhos azuis são atraídos pela energia caótica
Da grande bola branca que emerge da terra 
Apontando para o céu.

Todos eles uivam, respondendo ao chamado da natureza
Pedindo uma mistura de sangue, sêmem e saliva 
Para aplacar um espírito que se recusa a ser domesticado
Pois isso significa nada mais que a própria morte.

Em noite de lua cheia 
Meu lobo entra no cio.

(...)


Quando vem o dia
E se dissipam as sombras 
De tantos embates raivosos, convulsivos 
Ele volta.  

Exaurido e machucado, procura o alento de meu colo 
E eu me ponho a lamber todas as suas feridas.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

É para frente que se anda!

Caminhar para frente é o que me rege...

Levo meu All Star para percorrer o Universo
E nada que você me diga me fará acreditar menos
Na beleza infinita que há na vida.

Estou exatamente onde quero estar:
Quero a realidade que ninguém vê
Ou finge não enxergar.

(Dedicado a Mi Kaplan, por me trazer de volta à vida a coragem de me expressar)