segunda-feira, 4 de maio de 2009

O demônio que dormia tranquilo

(31/08/06)

O demônio que dormia tranquilo
Escondido n'algum recanto das minhas entranhas
Ontem entreabriu, sonolento, os seus olhos
E hoje por fim despertou.

Acordou querendo abrir meu corpo
Para se livrar da jaula de ouro enfeitada com flores
Que para ele criei.

"Babaca"- range por entre seus dentes pontiagudos,
"Te rasgo por dentro, você sabe"
E então o deixo fugir.

Pisa com seus pés de fogo para fora de mim 
Mas me leva pela mão
Como uma mãe leva seu filho ao dentista
"Não quero, não quero", repito.

Quer destroçar qualquer sentimento ameno
Acabar com qualquer traço de equilíbrio e harmonia
Mastigar com gosto aqueles que lhe foram gentis
E depois cuspi-los fora.

Quer cuspir, arrotar, empurrar
Arranjar briga, beber e se entregar
A todo tipo de vício permissivo que existe.

Até se consumir por inteiro
Até sobrar apenas cinzas e lágrimas.


Vai voltar para a sua jaula, então
Cansado e satisfeito
Pelo caos que instaurou 
No universo que estava sendo reformado
E tão bonito ficava.

A mim,  só me restará
Quando ele se soltar, sem qualquer apego
da mão que se deixava guiar
Olhar no fundo dos teus olhos, meu amor
E me desculpar.

Pois contigo quero alcançar o paraíso
Mas esse demônio faz parte de quem sou.


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